Le boucher, 1970

Le boucher. dir. Claude Chabrol. 1970

Assisti ao genial Le boucher quando tinha 15 ou 16 anos no pequeno Film Club da minha escola no interior da Inglaterra. Foi organizado pelo professor de francês e portanto os últimos filmes do Truffaut, Malle e Chabrol sempre faziam parte da programação, embora todos em cópias bem precárias de Super-8. Eu nem sei onde ele conseguia os filmes, talvez em uma videoteca na cidade mais próxima. Inicialmente, o clube para mim era nada mais do que uma desculpa para matar alguma atividade esportiva, as quais eram absurdamente excessivas para meu gosto.

Chabrol me tocou de uma forma especial com La femme infidèle e Que la bête meure, mas foi Le boucher que acordou em mim a primeira consciência da construção artística de um filme, a subjetividade do diretor e do fotógrafo, as escolhas de estilo e outras ideias. E embora eu não tenha assistido a este filme recentemente (faz décadas), me lembro exatamente das cenas que eu estudava concentrado e que abriam a minha mente de adolescente para as possibilidades da linguagem de cinema: no final do filme o personagem do Jean Yanne chega uma última vez na sala de aula para encontrar a professora de Stéphane Audran, e segue uma sequência de uma extraordinária delicadeza e beleza, apesar da tragédia violenta se desenrolando.

Le boucher foi a minha primeira uma aula de cinema.

E para os nerds da fotografia: o filme tem um plano sequência maravilhoso que segue os personagens andando pelas ruas do vilarejo por quatro minutos (só seis anos depois a Steadycam chegaria para facilitar este tipo de plano).

Meus endereços

Os meus endereços até hoje foram:

Rock Hill, Woodhouse Eaves, Loughborough, Leics., Inglaterra
Stockingers Cottage, Woodhouse Eaves, Loughborough, Leics., Inglaterra
Peterborough House, Oakham School, Rutland, Inglaterra
Wharflands House, Oakham School, Rutland, Inglaterra
Dansenbergerstraße 120, Dansenberg, Kaiserslautern, Alemanha
Am Wasserturm 3, Igstadt, Wiesbaden, Alemanha
Uhlandstraße 21, Wiesbaden, Alemanha
59 Leander Road, Brixton, London, Inglaterra
Rua Sergipe 873/1201, Savassi, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
Rua Roberto Dias Lopes 93/1001, Leme, Rio de Janeiro, Brasil
Praça Cardeal Arcoverde 45/602, Copacabana, Rio de Janeiro, Brasil
Rua Professor Azevedo Marques 14/202, Leblon, Rio de Janeiro, Brasil
Rua Nascimento Silva 383/cob, Ipanema, Rio de Janeiro, Brasil
Rua Saddock de Sá 40/401, Ipanema, Rio de Janeiro, Brasil
Rua Bulhões Carvalho 599/504, Copacabana, Rio de Janeiro, Brasil

e me sinto desde pequeno perfeitamente em casa em Dublin, Irlanda, e em Tourrettes-sur-Loup, França.

CV tradução/cinema+TV

Alguns projetos cinematográficos com tradução de Hugo Moss (roteiro, legendagem e outro material):

Estorvo, For All, Bellini e a Esfinge, Oriundi, Benjamim, O menino maluquinho, Wait For Me, Atrás do Vento, Negociação Mortal, O Viagante, Quase Memória,  Central do Brasil, Bendito Fruto, Eu Tu Eles, Panair do Brasil, Cidade de Deus, Mauá – Imperador e Rei, Gêmeas, Bahia de Todos os Sambas, Aleijadinho, Samba, Outras Histórias, Domésticas, Amores Possíveis, Quase Nada, Latitude Zero, Dia da Caça, Bufo e Spallanzani, Casa de Areia, Condenado à Liberdade, No Olho do Furacão, Janela da Alma, A História de Dé, Antes da Noite, Dias de Nietzsche, A Partilha, Xangô de Baker Street, Histórias do Olhar, As Três Marias, Tainá, Whispers, Lavoura Arcaica, Vinicius, Os Narradores do Vale de Javé, O Banquete dos Mendigos, Querido Estranho, O Homem do Ano, Tainá 2, Carandiru, Carandiru.doc, Cazuza, Os Arturos, Ouro Negro, A Escuta do Silêncio, Vaidade, O Outro Lado da Rua, Olga, Febre de Rato, Redentor, A Taça do Mundo é Nossa, Coração do Samba, Guardiões do Samba, JK, Gaijin 2, Vinho de Rosas, Moacir, Desafinados, Vestido de Noiva, Budapeste, Lembranças do Futuro, Veneno da Madrugada, Zuzu Angel, O Cinema é Meu Jardim, Dois Filhos de Francisco, Norma, Coisa Mais Linda, As Meninas, El Passado, Tropa de Elite, Vinicius, Órfãs da Rainha, O Ano em que  Meus Pais Saíram de Férias, Descaminhos, Cinco Frações de uma Quase História, Meu Brasil, Fronteira, Foliar Brasil, O Magnata, O Mundo em Duas Voltas, Garimpo, Querô, O Crime da Atriz, Pedra do Reino, Chega de Saudades, Malandro, Todo Mundo tem Problemas (Sexuais), Corações Sujos, Moving House, Encarnação do Demônio, Verônica, Capitu, Tainá 3, O Contador de Histórias, O Homem do Futuro, Rio Funk, Bossa Nova, Terras, As Aventuras do Avião Vermelho, Bolota e Chumbrega, Nosso Lar, Made in Brazil, As Melhores Coisas do Mundo, Penas Alternativas, O Senhor do Labirinto, A Suprema Felicidade, Estamos Juntos, Ratoeira, Heleno, Afinal o que Querem as Mulheres?, Qualquer Gato, Meus Pais, Capitães de Areia, Por um Punhado de Dólares – os Novos Emigrados, Elena, Marcelo Yuko no Caminho das Setas, Lutas, Reidy – a Construção da Utópia, O Samba que Mora em Mim, Trilogia do Pantanal, Tainá 4, A Mulher de Longe, Reino Animal, Sunday, Todos Esses Dias em que Sou Estrangeiro, Eliane, Lobo Atrás da Porta, Brincante, Que Horas Ele Volta, Ausência, Pele de Pássaro, Meu Amigo Hindu, Copacabana, Introdução à Música do Sangue, Mexeu Comigo Mexeu Com Todas, Impeachment (…)

…além dos roteiros de Laboratórios Sundance e inúmeros outros projetos inéditos.

Como formatar…

A primeiríssima versão do guia Como formatar o seu roteiro foi publicado online em 1996, e depois em forma de livro a partir de 1998, inicialmente distribuído entre uma meia-dúzia de livrarias cariocas. Em 2002 ganhou alcance bem maior através da edição da Editora Aeroplano. O livro rapidamente se tornou uma obra fundamental para roteiristas brasileiros, recomendado em todas as escolas e faculdades de cinema.
Durante nove anos vendeu em média três exemplares por dia, o ano todo. Em 2013 a Aeroplano parou de publicar livros impressos e a última edição rapidamente se esgotou. Como formatar… voltou às suas origens com um presença online e hoje pode ser acessado no site www.roteirista.com, onde leitores/usuários são convidados a fazer uma contribuição consciente para ajudar com a manutenção desta ferramenta simples.

Pensamento positivo

Positives Denken ist überhaupt kein Denken
Weil Denken is Spalten, Trennen, Auseinandernehmen
Abstand, Aufruhr, Kritik
Des scheinbar Selbstverständlichen
Das man uns einbläuen will
Damit wir unbeschwert konsumieren.
Positiv denken ist eigentlich einkaufen.

Pensamento positivo nem é pensamento
Porque pensamento é dividir, separar, dissecar
Distância, revolta, crítica
Do que parece óbvio
Do que querem nos convencer
Para que consumamos sem preocupação.
Na verdade, pensar positivo é fazer compras.

Positive thinking isn’t really thinking at all
Because thinking is to divide, to separate, to dissect
Distance, revolt, criticism
Of what appears obvious
All we’re being fed so that
Nothing hinders us as consumers.
Positive thinking is actually shopping.

Martin Heckmanns (aus/from/de “Glänzende Aussichten”)

A unidade espiritual do mundo

Este livro é um dos trabalhos de tradução do qual mais me orgulho, por dois motivos:

Primeiro porque me ofereceu a oportunidade de traduzir de uma tacada só entre todas as quatro línguas que falo: do francês, do alemão e – evidentemente – do português, para o inglês.

A outra razão é que o principal texto é do autor genial Stefan Zweig, sempre uma honra e prazer traduzir, mas além disso, se trata de uma conferência que ele ofereceu nos anos 30 e que não poderia ser mais atual. Fala dos tempos sombrios com o avanço do fascismo e a aproximação de novos conflitos na Europa.
Continue lendo “A unidade espiritual do mundo”

Trinta anos – um fragmento

Em 1986 estava morando há três anos em Brixton, um bairro no sul de Londres, em um quarto alugado na casa de Michael Fish, um designer de moda importante dos anos 60. Meu irmão Gérard havia se mudado para o Rio uns anos antes e meus pais já haviam feito uma visita, conhecendo também Ouro Preto e Brasília. Seu álbum da viagem me encantou e decidi tomar a coragem e seguir em seus passos. Sim, coragem. Porque embora eu fosse um viajante já experiente, meus horizontes eram ainda principalmente europeus. Ir até o Brasil parecia um gesto além do meu alcance. Mas em abril me apoiei na minha curiosidade incontrolável e embarquei para um primeiro vôo interminável de 11 horas. Ao chegar, fiquei instantaneamente fascinado, deslumbrado com o país, a língua, música, pessoas, paisagens…principalmente durante os dez dias que passei em Minas, vagando até as serras de Diamantina num carro alugado.
Foi ali no interior de Minas que uma semente começou a brotar, a idéia de passar um tempo no Brasil. A fascinação por tudo que estava vivendo naquelas paisagens era tão grande; sentia que aquilo ia render bastante vida para mim. Em maio voltei para Londres e comecei a fazer alguns planos tímidos, procurando algum motivo concreto que me levasse para o Brasil, pelo menos por um tempo um pouco maior, quem sabe um ano.
Trabalhava na área editorial, era gerente de uma livraria no coração de Bloomsbury, então comecei a sondar a viabilidade de começar uma agência literária representando autores brasileiros. Não que eu conhecesse algum autor brasileiro, muito menos a literatura brasileira (traduções ainda eram esparsas), e menos ainda a língua portuguesa, mas como livros e Brasil eram naquele momento minhas duas principais paixões, era a única pista que eu tinha. Em outubro rodei a Feira de Livros de Frankfurt com o projeto da agência em baixo do braço, porém sem muito sucesso. Finalmente, no início de 1987, consegui um trabalho pesquisando para uma editora um guia turístico sobre Brasil. O Embaixador José Merquior me recebeu na Embaixada de Londres e me cedeu um visto cultural de um ano.
Aos poucos fui organizando a minha retirada de Londres, me despedindo da livraria, empacotando e levando a minha extensa biblioteca e alguns outros pertences para a casa dos meus pais no interior da Inglaterra. Esta longa despedida culminou em uma grande festa na casa do Michael, com a banda de música irlandesa em qual tocava nos fins de semana, todos os amigos do mundo literário, outros artistas e várias figuras daquele bairro colorido. Enquanto o dia clareava, eu e o último convidado, o músico Steve Hodge, escalamos a cerejeira no fundo do jardim e ficamos lá no alto compartilhando silenciosamente este momento tão grande, os passos para o desconhecido distante. No meio desta cena de contemplação e deslumbramento, enquanto o amanhecer seguia ignorante seu caminho, chamamos a atenção de um entregador de leite passando na rua de traz. Ele riu. Nos três rimos. Ele nos jogou uma caixinha de suco de laranja para ajudar a superarmos os excessos da noite, e seguiu seu caminho.
No dia seguinte, um ano depois de conhecer Brasil pela primeira vez, segui também meu caminho. Fui ao aeroporto de Heathrow com uma mala e meu visto. Era 23 de abril. Eu tinha 25 anos.